terça-feira, 26 de julho de 2011

Viver de música - um pouco da minha história musical

Quando nos perguntam qual a sua profissão, e respondemos "sou músico", na verdade estamos generalizando. Aliás, generalizar por si só já é difícil, já que, por incrível que pareça, para muitos essa profissão ainda é uma incógnita. No Brasil, tudo que envolve arte ainda está muito distante de ser devidamente compreendido. É uma questão cultural, com o tempo se resolve.

O lance é que ainda encontramos dificuldades, por exemplo, na hora de preencher um cadastro. A profissão "músico" aparece, com efeito, em muitos deles, mas há aqueles em que devemos apelar para o termo "autônomo", ainda mais genérico e muito menos de acordo com a realidade...

Mas isso explica aquela cara de surpresa, com uma leve pitada de desconfiança, com que nos olham aqueles que se atrevem a perguntar: "Mas você só trabalha com música?" rsrsrsrsrs

Esse é um problema mais do iniciante nesse pedregoso campo,
já que à medida que você vai ganhando experiência, essa questão anula-se de duas maneiras: a primeira é que o músico aprende que não tem que provar nada e nem tentar convencer ninguém a não ser a si mesmo, de que é capaz e tem talento para exercer o seu trabalho. A segunda é que, quanto mais trabalha, mais esse trabalho é reconhecido e torna-se notável, até pelo tempo que ele consome, de que você tem uma profissão digna de respeito e sobretudo de admiração.

Ainda vai restar a questão da fama - afinal, para muitos, ser um músico profissional significa estar na mídia, aparecer aqui e ali naqueles veículos onde o jabá faz a festa. Aqui, mais uma vez a experiência vem mostrar que o que vale mesmo é o trabalho, que vai te dar o prazer da realização profissional aliada a remuneração necessária a uma boa qualidade de vida. E, ao contrário do que pode parecer a primeira vista, fama nem sempre é sinônimo de remunerações mais altas, sobretudo essa fama repentina e de pouca duração que estamos acostumados a ver surgir todos os dias, com sucessos relâmpagos que raramente duram mais que um ano.

Claro que buscar a fama e o sucesso (usando aqui a palavra com sentido de fama também) não é nenhum pecado, e muitos que se embrenham pelo caminho da arte buscam mesmo esse objetivo. Que lutem então por isso e tenham consciência dos riscos, e boa sorte.

No meu caso, estou na música profissionalmente há 17 anos. Ou seja, foi no ano de 1994 a primeira vez que eu recebi uma remuneração para cantar. Antes disso, já tinha me apresentado em alguns palcos, mas acho que gostei mesmo dessa ideia de fazer o que gosto e ainda ganhar por isso, tanto que não parei mais.
É certo que demorei bastante pra encontrar o caminho, o jeito de me sentir seguro fazendo música. E nesse percurso a música foi sendo a atividade paralela, das horas vagas. Não é preciso dizer que você não consegue fazer algo realmente bem feito se não se dedicar totalmente aquilo.

Foi em meados de 2006 que as ideias começaram a se encaixar. Em dezembro de 2005 uma escola de informática onde eu trabalhava como instrutor fechou, e em vez de eu procurar outro emprego, resolvi (até que enfim) acreditar em mim e me dedicar ao que eu naturalmente tenho aptidão.

Para aqueles que na profissão de música só enxergam glamour, cantar em bares, shoppings e festas não é nada espetacular. Mas hoje, analisando a evolução da minha vida profissional, percebo que talvez os resultados tivessem aparecido muito antes, se eu tivesse enxergado a questão de "viver de música" pelo ângulo correto.

A música é arte em primeiro lugar. Se você deseja ser músico, um bom músico, terá que estudar muito e se dedicar bastante. Isso tudo, juntamente com o dom que vem de berço, vai te permitir executar lindas interpretações num instrumento ou arrancar aplausos para o seu canto.
Agora, se além disso você quiser ser um profissional da música, é preciso ter em mente que as exigências são as mesmas de toda profissão: responsabilidade, competência, comprometimento, pesquisa e aprendizado constantes, parcerias, investimento, etc etc etc... E, por que não dizer, engolir alguns sapos de vez em quando, como em qualquer profissão. Só para exemplificar a questão da responsabilidade: de nada adiantará ser um músico excelente, se você chegar atrasado aos eventos.

Acho que a conclusão a que se chega (simplificando é claro, e também falando basicamente do trabalho em bares que é feito por mim) é que quanto mais valorizarmos essa profissão, mais temos a ganhar em termos de qualidade. Pra você que é músico, é a excelência no seu trabalho, que te dará o prazer no reconhecimento das pessoas e remuneração merecida. Pra quem contrata, certeza de um ótimo serviço prestado por um profissional de qualidade, que trará retorno em forma de público exigente. Pra quem ouve, satisfação de receber arte em forma de música, por um artista que está próximo de você a ponto de te permitir interagir e ouvir um pedido seu ao vivo!

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Um comentário:

  1. Muita gente assinaria este texto com certeza, por terem passado pelo mesmo caminho que você! Muito bom.

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Abraços do Luiz França.