quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Barbolla

E hoje tem estreia!

Depois de tocar de janeiro a setembro, todas as quintas-feiras, na North Beer, a partir de hoje eu passo a me apresentar às quintas-feiras no Barbolla, que fica na Rua dos Três Irmãos, 460 no bairro do Morumbi.

O Barbolla foi citado pela Revista Veja como o melhor bar pra se ir a dois em São Paulo. Mas pode ir sozinho ou com amigos também, viu?


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Coletânea Caiubi

A música Rio de Prazer, faixa 4 do álbum Tudo Que Eu Sempre Quis Ter (Luiz França), agora também faz parte do álbum A Nova MPB - Vol. 1, lançado em ambiente virtual pelo Clube Caiubi de Compositores.

Vale a pena conferir esse trabalho que traz 21 canções de artistas independentes, esses que como sabemos não fazem parte da "Dona Mídia" mas que, através da internet, você tem acesso e pode selecionar aquilo que VOCÊ quer ouvir, não o que tentam te empurrar via jabá.

Para acessar o álbum e baixar as músicas gratuitamente, acesse:

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Nova Elite Caipira

Vale a pena ler. 
Texto: Marcia Buriti. 

No título do famoso filme Tropa de elite (José Padilha, 2007), o termo elite referia-se ao grupo de policiais especialmente treinados para operações muito complicadas. A “elite” que era a tropa tinha um significado de especialização, superioridade, hierarquia, entendidas tecnicamente. Na contramão, quem utiliza o termo em outros contextos refere-se, em geral, a: “donos do poder”, “classe dominante”, “oligarquia”, “dominação política”, “dominação econômica”, “classe dirigente”, “minoria privilegiada”, “formação de opinião”, “dirigente cultural”. “Elite” é termo usado para designar as vantagens petrificadas de “ricos” e “poderosos” que comandam massas, as maiorias anódinas que, não tendo poder, parecem não ter escolha quanto a deixar-se conduzir. 


Usado em oposição a povo, à democracia, à simplicidade das gentes, à cultura popular, o termo é usado para designar grupos econômica, cultural e politicamente dominantes. Seu uso atual, no entanto, erra o alvo em relação à cultura, desde que vivemos uma curiosa inversão cultural. 

 

Morfina estética 


Há dois tipos de caipira. Um que era o oposto da elite, como o simpático Jeca Tatu, e outro, que é a própria nova elite, o cantor da dupla sertaneja que, depois de um banho fashion, fica pronto para o ataque às massas, mesmo que seu estilo continue sendo o do chamado “jeca”. Refiro-me ao “caipira” ou “jeca” como figura genérica, mas poderia também falar da moça cantando seu axé music, seu funk, que, de repente, não é uma “artista do povo” como quer fazer parecer a indústria que a sustenta (e atormenta o povo como F. Bacon dizia que era preciso tormentar a natureza para receber dela o que interessava à ciência), mas é a rica e poderosa estrela – e objeto – da indústria cultural.

Sem arriscar um julgamento quanto à qualidade estética dos produtos do mercado, é possível, no entanto, questionar sua qualidade cultural e política. Muitos defendem que “é disso que o povo gosta”, enquanto outros dirão que o povo experimenta uma baixa valorização de si ao aceitar o que lhe trazem os ricos e poderosos sem que condições de escolha livre tenham sido dadas, o que surgiria de uma educação consistente – e inexistente em nosso contexto. A injeção diária de morfina estética que o povo recebe não permite saber se o “gosto” é autóctone ou externamente produzido.

De qualquer modo, no mundo da nova elite, a regra é a adulação das massas. Qualquer denúncia ou manifestação de desgosto em relação ao que se oferece a elas é sumariamente constrangida.

Mais curioso é a inversão culturalmente curiosa que está em cena. No lugar das extintas “elites culturais”, sobem ao podium as novas estrelas que permutam o antigo poder do artista e do intelectual pelo poder do jeca para quem a arte não é problema. Se o intelectual é melhor ou pior do que o jeca não é a nossa questão. Questão é desvendar o seguinte: num quadro em que professores recebem um torturante salário de fome, em que intelectuais sérios precisam pedir desculpas por existir, em que escritores permanecem perplexos sem saber se sobreviverão em um país de analfabetos, em que artistas-não-jecas recebem pareceres humilhantes de agências e ministérios, enquanto todos estes são questionados quanto a seu papel social e sua contribuição para a sociedade como se fossem um estorvo, ninguém pergunta sobre o papel cultural da elite caipira: Xuxas e Sangalos, Claudias Leittes e Luans Santanas, Micheis Telós – para citar exemplos – são livres para exercitar um autoritarismo sutil, covarde e sedutor na condução das massas à imbecilização planetária. Politicamente correto é elogiar a imbecilização como se ela não estivesse em cena impedindo a reflexão. O autor da crítica à nova elite sempre pode ser xingado de “elitista”, afinal, a elite jeca não tem outro argumento senão o disfarce.

marciatiburi@revistacult.com.br

sexta-feira, 17 de maio de 2013

E lá se vai mais um ano!

17 de maio... 37 anos! 

No filme "Somos tão jovens", uma das cenas que mais me marcou foi aquela em que Renato Russo fala dos seus planos de vida: dos 20 aos 40, seria roqueiro; dos 40 aos 60, cineasta; dos 60 aos 80, escritor. Uma pena que ele sequer tenha chegado aos 40. 

Mas, aos 37 anos de vida, eu vejo isso como uma revolução na forma de pensar com que somos programados a partir do nascimento. Estudamos durante um certo período, escolhemos a nossa profissão e vamos caminhando como gados até a felicidade suprema - a aposentadoria. Renato era doidão, era chato, difícil de conviver, mas ele pensava fora da caixinha. 

Não que eu não queira ser músico a vida toda - nem Renato, provavelmente, desistiria de sê-lo, até porque a música não é apenas uma profissão, ta na gente e pronto (aqui, vale a lembrança de mais uma cena, em que o pai do Renato lhe fala: "Espero que você não tenha escolhido ser músico a vida toda")

Mas a questão é outra. A vida é dinâmica, e se eu pensar que estou com 37 anos e já parece que vivi tanto... tirando os sete anos iniciais nos quais eu, provavelmente, nem sabia quem ou o que eu era na Terra, temos 30 anos que são, já, uma vida. E se já significam tanto esses 30 anos, o que pensar dos próximos 30? Quanta vida pela frente, quanta coisa tenho pra viver, apenas com base no que já passou? Dá pra aprender tanta coisa nova, começar tanto projeto diferente daqueles em que já me meti... tenho visto corredores que começaram a correr aos 60, bailarinos que não sabiam nem dançar valsa até os 80 anos!

Somos tão jovens!

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Por tras da letra: Ronda

Faleceu na noite do domingo 28/04/13, às 23:35 o compositor e zoólogo Paulo Vanzolini.
Em homenagem a ele, transcrevo a história da sua maior composição: Ronda.
Paulo Emílio Vanzolini era diretor do Museu de Zoologia da USP e uma das maiores autoridades em herptologia do mundo. Pra quem não sabe, como eu não sabia até ontem, herptologia é a área da biologia destinada ao estudo de cobras e lagartos.

Talvez, por isso, ao se dedicar a compor nas rodas da boemia, Paulo Vanzolini destilou seu veneno em pérolas da música popular brasileira. Se a maior parte de seu repertório, assim como seus estudos em herptologia, é desconhecida do grande público, Ronda e Volta por Cima encontram-se entre as canções mais executadas do Brasil, rendendo alguns níqueis ao compositor, que, com o dinheiro recebido dos direitos autorais dessas canções, montou uma das maiores bibliotecas da América Latina na área de répteis e anfíbios.


Apesar do sucesso, o compositor não se cansa de soltar cobras e lagartos sobre Ronda, sua música mais famosa. Considera a canção “piegas”, uma “bobagem que fez aos 21 anos", quando estava no Exército e fazia ronda no baixo meretrício:

“A coisa mais engraçada é que o povo acha que Ronda é um hino a São Paulo, mas na verdade ela é sobre uma mulher da vida (risos). Naquela época, servindo o Exército, eu patrulhava o baixo meretrício. Uma noite, na saída, eu estava tomando um chope ali pela avenida São João, quando vi uma mulher abrindo a porta do bar e olhando para dentro. Imaginei que ela estava procurando o namorado. Ele pensava que era para fazer as pazes, mas o que ela queria era passar fogo nele (risos).”

Claro que o dinheiro referente aos direitos autorais de Ronda não vem das grandes gravadoras, nem, tampouco, das rádios comerciais, mas dos pedidos feitos em guardanapos molhados de lágrimas nos botecos, em que o título da canção é, muitas vezes, confundido com o da moto japonesa: “Toca Honda”, pedem os boêmios de cotovelos doloridos.

O compositor se diverte com o feito: “Claro que eu recebo o dinheiro que entra de bom coração. (...) Japonesa fica com dor de corno e vai ao karaokê cantar Ronda”.

Ronda foi feita em 1945, mas foi gravada, somente, em 1953. Segundo Vanzolini, Inezita Barroso, muito amiga de sua mulher, foi para o Rio de Janeiro gravar A Moda da Pinga. A gravação seria num sábado à tarde e o casal foi junto para fazer companhia. Chegando lá, perguntaram a Inezita que música seria gravada no lado B do disco. O verso de A Moda da Pinga deve ter-lhe subido à cabeça: “A marvada pinga é que me atrapaia...”. Tremenda dor de cabeça. Àquela altura do campeonato, em pleno sábado, Inezita podia ser, como é, ainda hoje, conhecedora de um vasto repertório, mas onde conseguiria a autorização do autor? Foi por isso que gravou Ronda. E, de acordo com o autor, ainda errou a letra na gravação.

Para ela, a história não foi bem assim:

“Eu fui pro Rio gravar A Moda da Pinga. Gostaram muito, e 'do outro lado o quê?' O Paulo Vanzolini estava comigo no Rio, tinha ido fazer um trabalho de zoologia, nós éramos muito amigos e ele foi pro estúdio comigo. Aí ele olhou assim meio pedindo e eu falei: 'Tá bom, do outro lado vai Ronda, do Paulo Vanzolini'. Aí me perguntaram: 'O que é isso?' Falei: 'É um samba paulista'. Pra que eu falei isso. 'Samba paulista, São Paulo não tem samba'. Aí o Canhoto, que era o dono do regional que acompanhava, disse: 'Canta aí pra eu ouvir'. Aí eu cantei Ronda e foi aquele sucesso."

A diferença entre o AUTOR e o DETENTOR de direito autoral

Texto escrito pelo cantor e compositor Leoni, em seu blog "Diário de Bordo".

Onde estão os autores? Boa parte das confusões em relação ao Direito Autoral vem do desconhecimento de que o autor não é o único que recebe direitos autorais. Muita gente diz que fala em nome do autor quando está falando em nome de diversos outros detentores de direito autoral como editoras e gravadoras. Boa parte das pessoas do meio musical não sabe que pessoas jurídicas também podem receber esses direitos. Basta uma olhada na lista dos maiores arrecadadores do ECAD de 2012 para comprovar. Entre os 20 primeiros apenas 3 são compositores. Entre os 10 primeiros, nenhum.

A distribuição dos direitos

Outro ponto profundamente desconhecido pela classe é a percentagem que cada um desses detentores de direitos autorais recebe do montante total.

Distribuição indireta

Na distribuição indireta dos direitos de execução – que significa todas as receitas de execução pública excluindo shows – temos um panorama médio em que os compositores ficam com, aproximadamente, 37,5% do total antes dos impostos. Essa percentagem varia dependendo do autor ter a sua própria editora ou não. Como a maioria não tem, estou usando uma taxa padrão de 25% da parte do autor para editoras.

1.Sistema ECAD

A primeira fatia do bolo fica para o ECAD, 17% do total como taxa de administração, e para as Sociedades, que retêm de 7,5% a 8%. No total o sistema de gestão coletiva morde ¼ do dinheiro dos compositores. É um dos mais caros do mundo. Quando o CADE condenou o sistema afirmou que devia ser no mínimo 20% mais barato.

2.Autoral

Dos 75% restantes, 50% vão para a parte autoral e 25% para os direitos conexos - que explico no próximo tópico. Nessa rubrica autoral os “parceiros” dos compositores são as Editoras. Mais um quarto do montante – há editoras que cobram ainda mais! - dos compositores é subtraída, restando os 37,5% aproximados que citei anteriormente.

3.Direitos conexos

O quarto restante vai para pagamento de intérpretes, produtores fonográficos – que quer dizer gravadoras ou selos -, músicos, arranjadores etc.

Distribuição Direta - Shows

Na distribuição direta não há pagamento de conexos já que o intérprete e os músicos estão recebendo cachê e gravadoras não têm porque receber pois não há fonograma envolvido já que a canção está sendo executada ao vivo.

Com isso os únicos “parceiros” dos compositores são o sistema ECAD/Sociedades e as Editoras. Nesse caso os autores ficam com 56,25% antes dos impostos.

A importância do conceito

Sem compreendermos que detentores de direito autoral não são necessariamente os autores podemos nos enganar com o discurso de quem, visando os interesses de grandes corporações, vista o simpático disfarce de defensor dos autores. Os autores não têm nenhuma entidade que os represente, não há ninguém que fale em seu nome. Atualmente é cada um por si – e um bocado de gente contra todos. Para nos unirmos e termos uma voz precisamos de informação e debate. Por enquanto, qualquer grupo, empresa ou escritório que diga estar falando em nome dos autores está usurpando nossa palavra.

Quem deveria ser mais importante no Direito Autoral?

Atualmente as editoras multinacionais têm muito mais poder que os compositores, já que todas as decisões nas Assembléias do ECAD e das Sociedades são tomadas em função da arrecadação. Se quem arrecada mais manda mais, cria-se um sistema blindado e antidemocrático no qual quem ganha muito não quer mudar nada, quem ganha pouco não tem como mudar nada. Então, repetindo Caetano Veloso em seu texto sobre o ECAD: "Não é ‘Se mexer, desaba’; é ‘Se não pode mexer, não anda’.”

quinta-feira, 4 de abril de 2013

O Bêbado e a Equilibrista - História

Um dos maiores clássicos da parceria João Bosco & Aldir Blanc é “O Bêbado e a Equilibrista”. Mais do que um clássico, essa música foi um hino. Um hino do Brasil na época da ditadura e da anistia. “Com ela, a música popular soube encarnar como absoluta perfeição o momento histórico”, já disse Geraldo Carneiro. “Em uma certa hora aquela música cai na mão da Elis Regina e ela se apaixona. Quando ela grava está completamente possuída por aquela música, já não nos pertence”, já disse João Bosco. E no palco do Theatro Municipal, é o próprio João Bosco quem cantará.

Lançada em 1978, a música tem forte teor político. Mas surgiu, na verdade, como um desejo de João Bosco homenagear Charles Chaplin. Chaplin tinha morrido no Natal de 1977. “Estava em Minas, naquelas festividades de Natal e Ano Novo, e as pessoas entrando já no clima carnavalesco. Comecei a querer fazer no violão algo que ligasse o Chaplin àquele momento musical brasileiro, carnavalesco”, disse João numa entrevista. “Todos sentiram muito porque ele divertiu muito e de maneira incomum. Tratando os temas eminentemente humanos e se posicionando dentro desses temas a favor dos miseráveis, do vagabundo. Mas com uma alegria, algo invejável, e no final dos filmes havia sempre um horizonte onde você podia chegar a pensar em um dia viver em um mundo diferente. Não tão desfavorecido como este”, explicou. “Mas ele fazia de uma maneira muito bonita. Eu ligava muito o Chaplin ao sorriso, tem uma música que ele compôs, Smile, que eu acho belíssima, ele também tinha uma inspiração musical. Comecei a querer fazer no violão algo que ligasse o Chaplin àquele momento musical brasileiro, carnavalesco, desenvolvendo uma linha a partir do sorriso dele, a partir de Smile. Se você pegar a linha de “O Bêbado e a Equilibrista” vai dar no 'Smile'".

A letra é cheia de referências, a começar ao próprio Charles Chaplin. "Caía a tarde feito um viaduto.. E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos...", diz a letra. O viaduto, no caso, era o Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro, que desabou em 1971 deixando 29 mortos. O momento político do Brasil é lembrado várias vezes, em metáforas ou em menções como “Choram Marias e Clarisses” . As Marias e Clarices eram as viúvas dos presos políticos, representadas na letra pela Maria, mulher de Manuel Fiel Filho, e pela Clarisse, de Vladimir Herzog: os dois morreram nos porões do DOI-CODI.

É um “Brasil que sonha... com a volta do irmão do Henfil”, o sociólogo Herbert de Souza - Betinho – que estava exilado. "O que é bacana nessa música é que ela não nasceu ligada ao tema", disse Aldir Blanc. "Casualmente, encontrei o Henfil e o Chico Mário, que só falavam do mano que estava no exílio. O papo com o Chico e o Henfil me deu um estalo. Cheguei em casa, liguei para o João e sugeri que criássemos um personagem chapliniano, que, no fundo, deplorasse a condição dos exilados".

A canção foi um sucesso arrebatador. "A música foi cantada pela primeira vez, pela Elis, num programa em São Paulo. No dia seguinte, estava estourando em todo o Brasil e ainda nem tinha sido gravada", disse Aldir.

'O Bêbado e a Equilibrista' também revela as relações de amizade de João e Aldir - que, próximos de Henfil, se aproximaram mais de Elis. “Meu primeiro disco gravado, que eu dividi um lado com o Tom Jobim, foi uma idéia do Pasquim, com produção do Sérgio Ricardo. Então, como o Aldir também colaborava com o jornal, nós freqüentávamos a redação e era comum estarmos com Henfil, Sérgio Cabral, Ziraldo, Millôr... Depois, estreitei mais ainda as relações com o Henfil em função da aproximação dele com a Elis Regina, que era uma grande intérprete das nossas canções. E isso tudo gerou “O Bêbado e a Equilibrista”. É uma canção que celebra toda essa amizade: a minha, do Aldir, da Elis e do Henfil, com o Brasil", conclui Bosco.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Emilio Santiago - nos despedimos de um ícone

Perdemos uma joia da Música Popular Brasileira.
Uma joia que estava, como tantos outros talentos, esquecida e ignorada pela mídia - essa mídia que insiste em vomitar nas nossas televisões e nos nossos rádios as porcarias que a falta de cultura digere feliz e conivente.

Mas Emilio, à revelia disso tudo, já é eterno. Através da sua obra, inquestionável, ele terá seu nome gravado no mármore perpétuo da boa música nacional, que será sempre acessada por aqueles que já se acostumaram a irem buscar aquilo que desejam, enquanto alguns continuam aplaudindo a migalha que lhes é entregue pelas grandes gravadoras e os empresários ávidos pelo dinheiro fácil do lixo musical sem qualquer trabalho artístico ou literário.

Obrigado, Emilio, pelos tantos bons momentos que me proporcionastes, como nos diversos casamentos em que tive a oportunidade de cantar essa obra prima composta por Verônica Sabino e arrepiante na sua voz forte e marcante: (pause o player de música ao lado antes de assistir ao video)

sábado, 16 de março de 2013

Fofocas da era digital


As redes sociais podem ser extremamente perversas às vezes. A agilidade, o desejo de popularidade, a própria dinâmica do Twitter e do Facebook, tão positivas na maioria das vezes, podem ser usadas para o mal – como para espalhar calúnias e difamações sobre as pessoas. Dois casos recentes são tristes exemplos disse: um contra o Papa Francisco, outro contra o deputado Jean Wyllys.

Circula por aí que o então cardeal Jorge Mario Bergoglio teria dito: “las mujeres son naturalmente ineptas para ejercer cargos políticos. El orden natural y los hechos nos enseñan que el hombre es el ser político por excelencia; las Escrituras nos demuestran que la mujer siempre es el apoyo del hombre pensador y hacedor, pero nada más que eso”. Uma busca no Google indica o seguinte: apenas blogs mencionam esta frase. nenhum jornal a reproduz. E mesmo os blogs que a citam dizem que foi em 2007, mas não informam onde teria sido nem em que contexto. Acrescentam apenas que a Telam, a agência de notícias do governo argentino (que detesta Bergoglio) publicou isso. No entanto, quando se faz uma busca na Telam, a frase não aparece. Fiz duas buscas no Google restritas apenas à Telam: uma procurando a frase exata; outra mais ampla, procurando os termos “Bergoglio” e “mujeres”, juntos. Não encontrei a tal frase em nenhum dos casos. Para fazer essas buscas no Google apenas na agência oficial, coloquei os seguintes termos no campo de pesquisa: “las mujeres son naturalmente ineptas” site:http://www.telam.com.ar e Bergoglio mujeres site: http://www.telam.com.ar . Repita-as e aprofunde-as se desejar.

Não posso afirmar com certeza que a frase atribuída a Bergoglio é falsa, mas não encontrei nenhuma prova de que seja verdadeira.

O outro caso é uma frase atribuída a Jean Wyllys: “A bíblia é uma piada, quem crê nela é palhaço, e as igrejas são uns circos. Pronto falei!”. Em seu Twitter, o deputado nega a autoria da frase. Penso que isso basta para considerá-la falsa realmente.

Esses dois casos levantam dois problemas: o primeiro são as pessoas perversas que inventam frases e atribuem aos outros, com o intuito claro de denegrir sua imagem. Isso é falsidade, é maucaratismo, pois essas pessoas sabem que as frases são falsas. São mentirosos da pior espécie. Cometem crime de injúria.

O outro problema é replicar essas frases sem checar. Há pessoas que acham que pelo simples fato de alguém ter compartilhado, elas são verdadeiras. Isso é a fofoca, a maledicência da era digital. Nada difere daqueles que passam uma fofoca pra frente e acrescentam “eu não sei de nada, mas é o que estão dizendo…”

Se você se aborrece com as falsidades atribuídas às pessoas de quem você gosta, deveria ter o mesmo sentimento com relação às mentiras que circulam sobre as pessoas de quem você não gosta. Veracidade, honestidade, justiça. São valores fundamentais.

Portanto, só compartilhe coisas se você realmente tiver certeza, se tiver checado. E mesmo quando tiver certeza, pense duas vezes antes de compartilhar.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Tempo de Mudança

(Permitam-me abrir uma brecha no assunto do blog, mas não posso me calar)

O povo, historicamente, acostumou-se a ser comandado. Obrigado, barões, por nos dirigir o caminho. Ave, Cesar. Até Jesus disse: "Dai a Cesar o que é de Cesar", contextualmente respondendo a pergunta que não queria calar no seio dos judeus: é justa a cobrança de impostos por parte do governo de Roma?
Mas hoje é um novo tempo. Precisamos de um povo presente, um povo que não sinta enfado em se inteirar dos assuntos pertinentes a nós mesmos, porque política não é uma cordilheira distante que ficamos a admirar porque alguns poucos corajosos se dispuseram a escalar. Política é parte integrante do nosso dia-a-dia, influenciando inclusive esse dia-a-dia mesmo à nossa revelia.

Uma reforma política se faz necessária e só conseguiremos isso com união, com voz. Como a mulher que cansou de aguentar calada os desmandos de um marido autoritário e violento e, apesar de saber que não será nada cômodo tomar uma atitude, ela diz "basta" e toma as rédeas da sua vida. Estamos a apanhar há séculos, por culpa de nós mesmos, de um sistema que foi criado por uma minoria detentora do conhecimento, da informação, do poder enfim. Do dinheiro, também, mas isso não é tão relevante, apenas ajuda a controlar outros tantos sem caráter como eles, pra que o sistema continue funcionando.

Estamos vivendo um tempo em que esse poder - o do conhecimento e da informação - está ao alcance de todos. Porém, como o cego que não quer ver, ainda insistimos em mudar de canal, em clicar em outros links, em mudar o rumo da conversa. O alto custo dos parlamentares não tem graça na mesa de bar, ainda que você esteja pagando isso na porção de salgadinho que o garçom lhe serve. O sujeito ficha suja que assumiu um determinado cargo eu nem conheço, mas aquele que está pra ser eliminado no reality show da tv eu sei até a personalidade.

Amigos, precisamos mudar nossa mentalidade, sei que o meu desabafo não é nem um pouco acadêmico ou rico em argumentações da poderosa psicologia, mas vem de um coração cansado de perceber que estamos num mesmo barco, responsáveis, ainda que não notemos, pelo movimento desse barco e por aqueles que operam seus controles. Somos, aliás, patrões deles - pagamos os seus salários para que ocupem os cargos necessários ao funcionamento de uma sociedade que quer pagar seus impostos, mas precisa - e merece - que esses recursos sejam utilizados para melhoria e bom andamento da nossa vida nos seus menores detalhes, não apenas para sustentação de uma máquina governamental que distribui altos benefícios a quem não faz nada pra justificar a posição que ocupa.

Espero que os movimentos iniciados em 2013, que começaram com a indignação de muitos com a posse de Genoíno após a condenação no processo do Mensalão, caminhem para uma consciência política duradoura e sustentável, culminando nas eleições de 2014. Acho que é a hora de esquecermos os partidos, que aliás nem pelos próprios candidatos são respeitados e que perderam toda a ideologia que diziam ter no passado. O momento é de escolhermos pessoas, com base em seu histórico e idoneidade, como fazem conosco na hora de tentarmos um emprego novo. Vamos extirpar a corrupção da nossa vida!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Estreia: North Beer

Olá, amigos!

Após tantos anos me apresentando em bares e casas com música ao vivo em São Paulo, eu poucas vezes toquei na zona norte. Isso não é nada bom para alguém que nasceu no Jaçanã, não é mesmo?

Então agora chegou a hora. Nesta quinta-feira 10/01 eu faço minha estreia na North Beer, essa chopperia linda aí da foto. O som começa às 21hs e vai até as 00:30hs.
O endereço é Rua Luís Dumont Villares, 1543. Fica próximo ao metrô Parada Inglesa.

Espero vocês!

Essa é a página da North Beer no facebook: https://www.facebook.com/Northbeeroficial?group_id=0


terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O Povo

Crônica de Rubem Alves - colunista da Folha de S. Paulo

“Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que ele realmente conhece”, observou Nietzsche. É o meu caso. Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo. Por medo. 
Alberto Camus, leitor de Nietzsche, acrescentou um detalhe acerca da hora em que a coragem chega: "Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos". Tardiamente. Na velhice. Como estou velho, ganhei coragem. 

Vou dizer aquilo sobre o que me calei: "O povo unido jamais será vencido", é disso que eu tenho medo. 

 Em tempos passados, invocava-se o nome de Deus como fundamento da ordem política. Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar: a democracia é o governo do povo. Não sei se foi bom negócio; o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável, é de uma imensa mediocridade. Basta ver os programas de TV que o povo prefere.

A Teologia da Libertação sacralizou o povo como instrumento de libertação histórica. Nada mais distante dos textos bíblicos. Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direções opostas. Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha para que o povo, na planície, se integrasse à adoração de um bezerro de ouro. Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso que quebrou as tábuas com os Dez Mandamentos.

E a história do profeta Oséias, homem apaixonado! Seu coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava! Mas ela tinha outras idéias. Amava a prostituição. Pulava de amante e amante enquanto o amor de Oséias pulava de perdão a perdão. Até que ela o abandonou.

Passado muito tempo, Oséias perambulava solitário pelo mercado de escravos. E o que foi que viu? Viu a sua amada sendo vendida como escrava. Oséias não teve dúvidas. Comprou-a e disse: "Agora você será minha para sempre." Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa numa parábola do amor de Deus. Deus era o amante apaixonado. O povo era a prostituta. Ele amava a prostituta, mas sabia que ela não era confiável.

O povo preferia os falsos profetas aos verdadeiros, porque os falsos profetas lhe contavam mentiras.
As mentiras são doces; a verdade é amarga.

Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola com pão e circo. No tempo dos romanos, o circo eram os cristãos sendo devorados pelos leões. E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos! As coisas mudaram. Os cristãos, de comida para os leões, se transformaram em donos do circo. O circo cristão era diferente: judeus, bruxas e hereges sendo queimados em praças públicas. As praças ficavam apinhadas com o povo em festa, se alegrando com o cheiro de churrasco e os gritos.

Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu livro "O Homem Moral e a Sociedade Imoral" observa que os indivíduos, isolados, têm consciência. São seres morais. Sentem-se "responsáveis" por aquilo que fazem. Mas quando passam a pertencer a um grupo, a razão é silenciada pelas emoções coletivas. Indivíduos que, isoladamente, são incapazes de fazer mal a uma borboleta, se incorporados a um grupo tornam-se capazes dos atos mais cruéis. Participam de linchamentos, são capazes de pôr fogo num índio adormecido e de jogar uma bomba no meio da torcida do time rival. Indivíduos são seres morais. Mas o povo não é moral. O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo.

Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional, segundo a verdade e segundo os interesses da coletividade. É sobre esse pressuposto que se constrói a democracia. Mas uma das características do povo é a facilidade com que ele é enganado. O povo é movido pelo poder das imagens e não pelo poder da razão. Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens. Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista que produz as imagens mais sedutoras.

O povo não pensa. Somente os indivíduos pensam. Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam a ser assimilados à coletividade. Uma coisa é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham.

Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo. Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás.

Durante a revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung, o povo queimava violinos em nome da verdade proletária. Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar. O nazismo era um movimento popular. O povo alemão amava o Führer. O povo, unido, jamais será vencido!

Tenho vários gostos que não são populares. Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos. Mas, que posso fazer? Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa, de Nietzsche, de Saramago, de silêncio; não gosto de churrasco, não gosto de rock, não gosto de música sertaneja, não gosto de futebol. Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo, eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos e a engolir sapos e a brincar de "boca-de-forno", à semelhança do que aconteceu na China.

De vez em quando, raramente, o povo fica bonito. Mas, para que esse acontecimento raro aconteça, é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute: "Caminhando e cantando e seguindo a canção." Isso é tarefa para os artistas e educadores.

O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança.